sexta-feira, março 24, 2006

O POLICIA BRONCO

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No domingo, dia 12 de Março corrente, houve na Póvoa a corrida pedestre, denominada a “Meia Maratona Cego do Maio” .
Como é de meu hábito diário, dirigi-me de carro para a zona do Porto de Pesca, de onde parto para as minhas caminhadas de manutenção. Segui pela Avenida Marginal. Eram então 10 horas e não havia ainda qualquer limitação ou impedimento de trânsito. À cautela, deixei o meu carro estacionado na rua Tenente Valadim e não junto da “alegoria da lota" como é meu costume, pois era de esperar que, na volta dos maratonistas, não pudesse partir dali para fazer o caminho de regresso a minha casa, em Aver-o-Mar.
Eram cerca das 11 horas quando começaram a chegar, pela marginal, dos lados de Vila do Conde, os pedestrianistas.Dirigi-me então para o carro e, como é óbvio, já não pude regressar pela marginal. Foi-me imposto, pelos agentes da polícia postados nos diversos cruzamentos, seguir para interior : Praça do Almada, Rua do Visconde, Rua Fernando Barbosa, Rua da Família dos Bonitos de Amorim; aqui, voltar na rotunda para a Rua Leonardo Coimbra até ao cruzamento com a Rua Gomes Amorim (estrada nacional )
Segui então para norte até encalhar, logo ali adiante, porque havia uma fila de carros parados até às proximidades da rotunda entre a Avenida Vasco da Gama e a Avenida do Mar. O impedimento da marcha era motivado pelos corredores que, subindo a Vasco da Gama, contornavam aquela rotunda para voltarem em sentido inverso.
Previ que a paragem seria demorada, face ao elevado número de atletas que teriam de fazer aquele contorno. Por isso, aproximei o carro, o mais possível do passeio, meti o travão de mão e esperei.
Passados que eram 10 minutos , na contingência de ter de permanecer ali muito mais tempo, preocupado com a intranquilidade da família face ao que seria um desusado atraso do meu regresso, peguei no telemóvel para dar conta da minha situação. Acto contínuo, aparece do outro lado da faixa de rodagem, de frente à Avenida Santos Graça, um agente da PSP aos berros: “pouse esse telemóvel ! pouse esse telemóvel !... e aproxima-se a passos largos. Instintivamente, eu ergo o braço esquerdo em gesto de enfado.
Foi então o diabo que se meteu no corpo do homem. Desabridamente exige-me a entrega dos documentos. Tento acalmá-lo, chamando-lhe a atenção para o facto de estar completamente parado, arrumado o mais possível para a direita e não haver qualquer circulação de veículos na estrada. Digo-lhe que não conheço o teor da lei , mas que o espírito ou sentido da mesma não poderia ser outro que o de prevenir o risco de acidente que uma momentânea distracção do condutor, provocada pelo telefonema, criaria. O que, no meu caso, estava completamente fora de questão. O individuo insiste na entrega dos documentos e entende que estou a “desobedecer à autoridade”; exige que saia do carro e leva o seu ímpeto ao acto de me querer arrancar do assento ameaçando-me de detenção.
Perante a impotência de exorcizar o demo que habitava o corpo do sujeito, donde o aumento progressivo das convulsões me assustou , saio da viatura e entrego-lhe o B.I. e a carta de condução. Enquanto anotava ele os elementos que precisava , advertia-o eu que ia processá-lo e exigia a sua identificação. Respondeu que eu saberia quem ele era dentro de quinze dias, quando recebesse "nota do auto".Negou-se, pois, a identificar-se. Enquanto eu reclamava que ele declarasse na sua participação que o carro estava completamente parado, mais justo, seria até, estacionado, ia-me dizendo que ele era a “autoridade”, “pessoa idónea” e a questão "seria da sua palavra contra a minha" . pressentia-se, nele, a premeditação da mentira.
Na altercação, respondi-lhe eu que o “hábito não faz o monge” e quanto à idoneidade, eu era um professor na situação de reformado e tinha a provecta idade de 79 anos, vividos como cidadão escrupuloso no cumprimento dos seus deveres. Mereceria, por isso, um pouco mais de respeito. Entretanto devolveu-me os documentos e foi-se embora. Ainda esperei mais cerca de 20 minutos até poder arrancar, continuando na fila até à rotunda acima referida.
Pelo que pude observar da atitude daquele agente, conclui que tarde se deu conta de que exorbitou com a pessoa errada e não terá alternativa senão recorrer à mentira para fazer valer a "sua palavra contra a minha" e ele é a autoridade. Será assim ? Espero bem que não.
De minha parte, para quem não me conhece, considerando a análise da minha descrição pormenorizada dos factos, mormente dos circunstanciais, coincidentes, da corrida e da hora a que a mesma se processava há-de concluir pela razão de meus argumentos para não deixar impune quem me ofendeu na dignidade a ponto de me sentir verdadeiramente humilhado. Aliás, presumo que era essa, mais que a multa, a intenção do sujeito. Usou mesmo da ironia quando lhe declarei que tinha sido professor :- “ rico professor deveria ter sido... “ , disse.
Fiquei também com a impressão que ele se julga inimputável como “executor da lei” e ninguém ousaria impugná-lo. Usou sempre um tom de voz intimidativo. Pretendia, com a sua arrogância, ocultar uma carência de formação que a sua profissão exigiria. Debalde lhe quis fazer sentir que ele era, antes de mais, um cívico e como tal deveria agir em quaisquer circunstâncias.
Finalmente, cabe aqui a questão :
Por que não passam, estes agentes da autoridade, por um curso de formação selectivo quanto às suas capacidades intelectuais e de inteligência para saberem interpretar e discernir das atitudes a tomar perante os factos em que devam ou não intervir ?
Dimas Maio

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