segunda-feira, março 06, 2006

LÍNGUA PORTUGUESA - género do substantivo bebé


GÉNERO DO NOME BEBÉ

Longe vão os tempos em que se condenava a introdução do termo duma língua estrangeira na “nobre língua de Camões”. Era pecado sem remissão, ou crime de lesa pátria, tal promiscuidade. Alegava-se, em defesa dessa razão, a riqueza vocabular da língua portuguesa, sem necessidade de recurso a estrangeirismos

O bebé ( menino ou menina) e não a distinção o bebé (menino) e a bebé(menina), erro por ignorância da norma da língua portuguesa que progressivamente se tem generalizado. É de facto, para mim, arrepiante ouvir ou ler, na comunicação social, o substantivo ou nome bebé precedido de um determinante feminino se o bebé é uma menina. Assim se diz erradamente no feminino: a bebé, uma bebé, esta bebé, etc.
Bebé s.m.(do fr.bébé) – criança do peito, criancinha. Assim refere o “ Grande Dicionário da Língua Portuguesa” de José Pedro Machado.
De facto, o nome ou substantivo bebé é traduzido, ou melhor, decalcado da língua francesa, cabendo perfeitamente na nossa norma, sem necessidade de ajustamento do seu género. Quero dizer que, em francês, le bébé, un bébé, ce bébé, etc. não admite o feminino: la bébé, une bébé ,cette bébé: ao dizer no género masculino englobam-se os dois sexos; se há necessidade de distinção, dir-se-á : un bébé petit garçon; un bébé petite fille. O mesmo acontece em português: um bebé menino; um bebé menina.
Estes nomes que só têm uma forma com um único género, qualquer que seja o sexo da pessoa que se nomeia, são tradicionalmente designados por substantivos sobrecomuns ; exemplos : o cônjuge, o indivíduo, a criança, a criatura... não se diz: a cônjuge, a indivíduo, o criança, o criatura.
Poder-se-á contra - argumentar que há nomes que têm uma forma comum aos dois géneros, nos quais a marca que distingue o masculino do feminino apenas se encontra nos determinantes ou adjectivos que aparecem a concordar com esse feminino; exemplos: o artista / a artista; o doente / a doente ; o jovem /a jovem , o emigrante / a emigrante, ou talentoso artista / talentosa artista; doente sofredor / doente sofredora; jovem atencioso / jovem atenciosa; emigrante saudoso / emigrante saudosa, etc. - estes nomes são designados por comuns de dois - e que o nome bebé poderia inserir-se nesta série e obedecer a esta regra.
Só que, não é de esquecer ou omitir que, o nome bebé não resulta da tradução mas sim da cópia ou decalque integral do francês e, por consequência, é aceite na nossa língua com a inerência de suas próprias regras, adaptando-se, no entanto, perfeitamente à norma da língua portuguesa, considerando-o um substantivo da série dos designados como sobrecomuns.

Como nota suplementar e para reforçar os argumentos acima produzidos, serve dizer que o substantivo bébé, em francês tem, por sua vez, origem, com o mesmo significado, no termo inglês baby que se traduz também por menino ou menina – “Bébé n.m. ( Baby,1841; de l’angl. Baby) enfant, nourrisson, nouveau-né, petit”.

Dimas Maio

Sem comentários: