segunda-feira, março 06, 2006

ALEGORIA AO TRABALHO NÃO INTELECTUAL


ALEGORIA LITERÁRIA
ALEGORIA ESCULTÓRICA
A l e g o r i a ( do grego allegoría, linguagem por metáforas). “É um tipo de metáfora (lato sensu) que compara uma realidade sempre de carácter abstracto com um termo metafórico, sempre concreto, visível plástico. Assim as figuras que rompem da alegoria fixam-se para a representação da mesma realidade”. Ex,: a alegoria da Justiça é representada por uma figura feminina, com olhos vendados. Significa que a Justiça é cega, isto é, aplica-se segundo a Lei e não olha a quem; é objectiva e, em princípio, é aplicada ao rico como ao pobre, ao que detém o poder, como ao simples cidadão comum.
*
Na arte literária, é ainda típico da alegoria o facto da realidade ser traduzida termo a termo para o plano metafórico e não em conjunto, globalmente como um símbolo. Assim, os pormenores da configuração da alegoria têm, cada um, uma função representativa da realidade a que alude. Temos, neste caso, uma série de metáforas (a metáfora é uma espécie de comparação abreviada, pois dá-se o desaparecimento da palavra ou expressão comparativa)
Como exemplo de figuras alegóricas , pode apontar-se o polvo no sermão de S.to António, pregado em S.Luís de Maranhão pelo P.e António Vieira. O autor encontra no polvo uma imagem da hipocrisia e da traição: “com aquele seu capelo na cabeça , parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha , parece a mesma brandura e a mesma mansidão” Estas características e, principalmente, a faculdade de mudar de cor consoante o ambiente que o rodeia são os equivalentes, no plano físico, da hipocrisia e do disfarce de que serve a traição – que é a ideia abstracta representada pelo polvo.
(A alegoria pode ser representada por toda uma obra literária: o “Auto da Alma” e a “Trilogia das Barcas” de Gil Vicente, são alegorias )
No auto vicentino, a passagem da vida terrena à vida depois da morte é alegoricamente representada pela passagem de um rio, para a qual estão disponíveis duas barcas, a barca do paraíso e a barca do inferno. As almas são metaforicamente representadas por passageiros; o interrogatório a que são submetidas representa o julgamento das almas subsequente à morte; o destino de cada uma das barcas prefigura a salvação ou a condenação eternas. Embarcar numa ou noutra depende do comportamento das almas na vida terrena e esse comportamento determina, portanto, o destino das almas depois da morte.
*
Na arte plástica, “a representação de ideias abstractas, encontrou a sua concretização em figurações de vário tipo, mas quase sempre de elementos humanos, cujos atributos têm um significado simbólico alusivo ao que pretendem significar. Muitos vezes, ao lado dos atributos identificadores, a própria acção das personagens representadas constitui o elemento essencial da alegoria”.
Confira-se esta menção com o conjunto escultórico que se encontra na rotunda do cruzamento da Avenida Vasco da Gama com a Avenida do Repatriamento dos Poveiros, aquele a que, por comodidade de referência, é designado muito impropriamente por “estátua do touro”. Ali se vêem configurados, em posição dinâmica, um trabalhador da terra (agricultor) e um trabalhador do mar ( pescador), usando, na simulação do seu labor, os respectivos instrumentos: a rede que o homem do mar a ele lança; o homem da terra com o bornal das sementes que à terra semeia e um animal, o boi, especial auxiliar do seu trabalho rural.
Aquele esplêndido ornamento da nossa cidade resultou da imaginação e arte do seu autor para simbolizar ou materializar a ideia do esforço de braço, no mar e na terra, das gentes trabalhadoras da Póvoa e seu concelho. Lá estão inscritas, em redor da plataforma da base, as 12 freguesias que o compõem. Simbólica ou alegórica, considerando a meu ver, neste particular, a sinonímia dos termos, justo é dizer que aquela obra de arte é magnífica na sua concepção.

A figura de proa do grande barco à vela, rumando ao norte seguro, na minha leitura, o criador, talvez inspirado na mitologia greco-romana , pretende que o gigante sem cabeça, que na imagem não se vê, simbolize toda a força produtiva do trabalho não intelectual

Sem comentários: