Reedição do texto publicado no jornal “O Comércio da Póvoa de Varzim” em 13 de Maio de 2004O nosso Município, no “Dia da Cidade”, 16 de Junho, vai prestar homenagem a instituições e personalidades que, pela sua acção em determinados campos de “cultura e lazer” têm dado o seu contributo para o enaltecimento desta ditosa urbe nossa amada. .
Assim, ao Clube Naval Povoense, vai ser atribuída a “Medalha de Reconhecimento Poveiro – Grau Ouro” por proposta de Macedo Vieira que realçou este merecimento pela acção empenhada em prol da cultura desportiva, direccionada para o elemento que empresta à Póvoa a sua natural grandeza, o Mar.
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À escritora Luísa Dacosta será imposta a “Medalha de Cidadão Poveiro” que indubitavelmente a merece porque, embora transmontana de berço, esta é obviamente, também , a sua terra de eleição.
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Cumpre-nos reconhecer o afecto que tem prestado à Póvoa, manifestado com a mais valia da sua obra literária, como um bom alanco, por esta distinta via , para a projecção da actividade poveira, num maior espaço intelectual , objectivo bem esclarecido dos responsáveis desta afortunada terra tida sempre como grata a quem, por algum modo, a glorifica.
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Luísa da Costa passou largas temporadas na casa sobranceira à praia de Esteiro, que se vê na imagem. Familiarizou-se com a gente humilde de Aver-o-Mar ; pescadores, sargaceiros e seareiros que são, afinal , os que têm estas ocupações de sobrevivência: homens e mulheres do mar e da terra. Fê-los interlocutores amados nas suas “A-VER-O-MAR Crónicas”, extraídas do real quotidiano. Dá-lhes a verdadeira vida no seu habitat. Traduz foneticamente, com a maior fidelidade o seu linguajar, pincelando fielmente a cor local . Chama-os, familiarmente pelos nomes e alcunhas. Vive com eles. Agrada-lhe deixar-se transportar nas suas carroças para o campo, pegando-lhes nos filhos ao colo, enquanto amanham a terra para a batata e o milho. Conhece as praias e as penedias, desde “Fragosa” até à muralha “Cabo de Carreiro” e “Aradinha”. Refere, bem conhecedora, os apetrechos do mar, da pesca e da apanha do sargaço.
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Então, seu estilo é singular, não lhe assenta uma vulgar definição. O discurso fluí com alternância natural da descrição dos cenários e a acção dos reais actores. O ritmo, por vezes vivo, passa a bonançoso, como a influência da ondulação do mar de Esteiro, que pode contemplar do seu moinho. Há um verdadeiro encantamento na sua obra que nos transmite um sentimento de amor, de apego às pessoas e às coisas da sua vivência, naquele ambiente . O seu sentido poético começa logo no prefácio que é um hino à vida dos seus heróis no seu pequeno mundo.
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Penso que, no entender de quem me lê, será desnecessário outro argumento para garantir a certeza de que a 16 de Junho próximo, a vila de Aver-o-Mar aproveitará a oportunidade da anunciada homenagem que o nosso Município vai prestar a Luísa Dacosta, para também lhe afirmar o seu particular reconhecimento. Para o efeito, permito-me sugerir um gesto simples que pretendendo distinguir a escritora, se honrará mais a si própria esta terra que foi berço de Francisco Gomes Amorim .
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Dar o nome da homenageada a uma rua importante é o menos que se pode fazer para memória da gratidão que, eternamente, esta vila lhe ficará a dever. Nesta conformidade, nenhuma mais ajustada e perfeita do que a marginal ao lado do que foi o seu romântico moinho.
A denominação que se lê na placa é : “Avenida do Jardim da Praia”. É inimaginável um tal topónimo, já que não há ali jardim algum. E que houvesse, não revelaria, o facto, uma evidente pobreza de imaginação, para não dizer incultura, do seu ou seus autores ?
Mais sonante ficará o nome de Luísa Dacosta porque despertará sempre na consciência dos averomarenses , que transmitirão aos filhos a memória da pessoa muito importante que com eles conviveu e lhes pegou, muitas vezes, ao colo.
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Desnecessário será também lembrar que o acto deverá anunciar-se com a devida solenidade do descerramento da placa toponímica.
Vide: DÍVIDA DE GRATIDÃO ( texto abaixo)