No tempo em que, no Colégio D. Nuno, me preparava para fazer o exame de transição do “Curso do Comércio” ,que então tinha completado, para o “Curso Liceal” era , nessa altura, professor de Matemática o médico poveiro, Sr. Dr. Vieira Trocado.
A sua inteligência superava qualquer dificuldade de adaptação a esta sua segunda actividade. Era conhecedor da matéria que, muito bem, sabia transmitir aos seus alunos.
Tinha também uma particularidade que eu aprecio: a jovialidade, e não deixava fugir uma oportunidade para descarregar o seu constante bom humor:
Um colega de turma, João Freitas de seu nome ( que veio a ser Director do Hospital Psiquiátrico de Gelfa, situado entre Vila Praia de Âncora e Caminha), irrequieto por natureza, durante uma aula do Dr. Vieira Trocado, teria feito barulho com um objecto, caído da carteira, interrompendo o nosso bom professor em plena explicação da matéria sumariada.
Acto contínuo, o mestre, que apontava para o quadro com um comprido ponteiro, voltou-se e serviu-se do mesmo para chegar ao cocuruto do amigo Freitas .
- Não fui eu ! - diz o suspeito
- Ah não ?! – respondeu, o sempre folgazão, Dr. Trocado. Olha, Deus Nosso Senhor, que é Deus Nosso Senhor, fez pagar o justo pelo pecador e eu que nem santo sou...
Ocorreu-me esta facécia para a introdução de um assunto sério, mas que o posso encabeçar com o mesmo título : PAGA O JUSTO PELO PECADOR
Quero falar da actual revolução do ensino empreendida pela Ministra da Educação que tem provocado manifestações e greves dos professores acicatados pelos sindicatos, nem sempre de maneira convenientemente ponderada.
Serão justas as medidas que pretende empreender, das quais os profissionais se dizem vítimas, bodes expiatórios, do mau sucesso da educação, bem notório, que, sempre a outrem, fora da sua esfera da acção, atribuem ?
Será assim, globalmente considerando a minha classe, não admitindo que o rebanho, actualmente, está intensamente eivado de ovelhas ranhosas ?
E os sindicatos têm agido da maneira mais concertada com os verdadeiros interesses dos seus inscritos ? O exagero das suas exigências, nas actuais circunstâncias, levarão a bons resultados? Não serão contraproducentes ?
Pense-se nestas questões. Medite-se nos exames, abolidos, dos alunos, a que os docentes foram dispensados de apresentar, dando espaço ao facilitismo dos desleixados. Recordem-se as fraudes dos destacamentos e dos atestados médicos; Ajuíze-se do absurdo do horário Zero...
O corolário destas questões patenteia-se publicamente na constatação da ignorância de indivíduos que se exibem na imprensa ou se expõem na TV, sobretudo nos concursos, onde pretendem demonstrar uma competitiva cultura geral. Muitos são os que falham redondamente na matéria que deveriam ter aprendido na escola. Cito apenas um clamoroso exemplo que foi, recentemente, repetido:
A questão foi apresentada na categoria de Língua Portuguesa, e a concorrente pediu, imagine-se, difícil :
- Das formas verbais: achastes; achais; achareis, diga qual é a da segunda pessoa do plural, do presente do indicativo.
A senhora que era militar da G.N.R. hesitou, o apresentador ajudou e, finalmente, respondeu certo: - achais. Contudo houve, dos adversários, vários que erraram.
Isto já era inadmissível num terceira classe da escola primária do meu tempo de menino.
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