.......clicar sobre as imagens para aumentar..... Morreu o Padre Ângelo !.....Foi assim, com esta
pedrada via e-mail, pelas 20 horas do dia 15, que o meu amigo Manuel Lopes Neves, sentidamente de sua parte, se obrigou a atingir-me para cumprir o dever de solidariedade que o sentimento da verdadeira amizade nos impõe.
.....Manuel Lopes deverá estar bem informado dos testemunhos da minha lealdade, em tempos conturbados , ao homem que eu admirei pela sua
incomensurável coragem de dizer
NÃO à
injustiça . Com grande dignidade negou a cobardia
e desafiou a hipocrisia reinante.
.....Devia obediência ao seu bispo e abandonar a paróquia, diziam os submetidos aos caprichos dum poder que se pretendia afirmar contra a força da hombridade assente na virtude da inteira dedicação ao seu dever sacerdotal......Era o povo humilde que louvava o seu padre e menosprezava os detentores do poder local. Daí, o despeito gerador do grande conflito ......Era ainda o tempo da ligação siamesa da Igreja à Ditadura e, consequentemente, a correspondência de privilégios entre os órgãos emdestaque, em benefício do tronco comum. .....Em Aver-o-Mar os católicos praticantes, os que mais frequentavam a Igreja e eram estimados pelo seu pároco, pertenciam, na sua maioria, às classes economicamente mais débeis......Recordo como tudo começou e explico a minha involuntária envolvência no conflito:.....Certo fim de semana (não posso precisar a data), já noite adentro, estava eu num recanto da sala da que era então a minha vivenda, ocupado na preperação das minhas aulas.Leccionava , na altura, na Escola Secundária de Monserrate em Viana do Castelo. Recordo-me que estava em .pijama. Minha mulher já se tinha recolhido e dormia, por certo, não se deu conta do que aconteceu e só na manhã seguinte lhe contei:
.....Do silêncio da noite irromperam gritos de aflição. Chego à porta e deparo com militares da G.N.R. à carga, desferindo coronhadas nas costas das pessoas a fugir. Num ímpeto de raiva por tamanha barbaridade, corro a aproximar-me daqueles autênticos cães de fila, reprovando-lhes vivamente a atitude:- Não se carrega assim sobre pessoas indefesas !- Está aqui, está a apanhar também! - responde um dos brutos - Então força, mas terá de ser pela frente ! Quero ver a sua valentia!.....Entretanto, o cabo, comandante da patrulha, menos estúpido, tenta convencer-me da razão da sua atitude, argumentando que foram vaiados quando passavam no Jipe. Retorqui-lhe com a insensatez da carga. Isso não justificava a brutalidade das coronhadas sobre mulheres e crianças......Entretanto, durante o diálogo, um dos soldados pôs-se a meu lado e ia-me dando furtivas caneladas. A intenção era provocar-me alguma irreflectida atitude, de modo a justificar de sua parte, uma mais violenta agressão......Chamei a atenção do comandante para aquela cobardia e retirei-me, não sem antes o informar que ia telefeonar para alguma entidade mais responsável......E assim fiz: .....Entrei em contacto com o Presidente da Câmara, Dr. Arriscado Amorim que me atendeu com a sua peculiar gentileza. Explicou-me que tinha dado instruções à patrulha da G.N.R. para não exercer qualquer violência desnecessária e se limitasse a observar o ambiente, procurando apenas evitar o confronto entre grupos adversários. Seria essa a sua exclusiva missão. Só que, a Guarda Republicana já havia manifestamente tomado o partido dos inimigos do padre Ângelo -disse-lhe eu. Informou-me então que ia telefonar para uma tasca onde os guardas receberiam instruções, de sua parte. para regressar ao quartel.
.....Voltei aos meus vizinhos, para lhes comunicar o diálogo que tive com o Presidente da Câmara, para os acalmar. Entrementes, o jipe passa na estrada, de regresso a casa, já se vê . Roguei então às pessoas que ficassem de bico calado, pois eu assumiria a responsabilidade, pondo-me à sua frente, em destaque, bem patente aos faróis......E assim se fez. O carro passou devagarinho e ninguém tugiu nem mugiu. Todo o mundo se foi então pacatamente embora ......Só que, para mim, o pesadelo começou naquela hora. Não havia passado uma semana, recebo em minha casa uma embaixada que me convence, sem custo, diga-se de passagem, a entrar na contenda. Assumo o meu lugar por uma causa que entendi justa......A seguir veio o padre Ângelo que gostei de conhecer e dele fiquei amigo para sempre.....Breve, acontece o 25 de Abril e então foi o que se viu e constou. De alguns momentos da luta tenho as fotos que o documentam. Só falta dizer que, por pouco, não fui completamente linchado. Valeu-me a utilização de arma de fogo e tive de ferir alguém em legítima defesa.Apresento este documento, para que se saiba, de uma vez por todas, que não entrei na
guerra de ânimo leve e, sobretudo, para prestar a minha justa homenagem ao sacerdote cuja firmeza de carácter me fez seu incondicional amigo.
..................................................Paz à sua alma ! demente